Vivaldo Barbosa: PTB e PDT negam o trabalhismo; Brizola choraria de novo

Parte da Bancada do PDT votou pela privatização da Eletrobrás.

Vivaldo Barbosa: PTB e PDT negam o trabalhismo; Brizola choraria de novo

Vivaldo Barbosa: PTB e PDT negam o trabalhismo; Brizola choraria de novo

PTB E PDT NEGAM O TRABALHISMO

Por Vivaldo Barbosa*

Notícias entristecedoras da vida política nacional.

1 – O fim definitivo do PTB, o velho Partido Trabalhista Brasileiro (veja PS do Viomundo), filho da revolução do 1930, criado por Getúlio Vargas.

Não é novidade, claro, pois desde a redemocratização transformou-se em linha auxiliar do conservadorismo, do fisiologismo, da direita, evidenciado em seu apoio a Collor.

Mas revive a tristeza. Agora, Roberto Jefferson escancarou e mudou seu programa para dar cobertura ao conservadorismo. Para receber Bolsonaro, dizem.

Isso já é sabido há muito, mas desperta para o que está vindo mais recente: o descaminho do PDT, o partido fundado por Brizola para abraçar as bandeiras do trabalhismo abandonadas pelo PTB.

Em 12 de maio de 1980, a sigla PTB foi entregue por Golbery do Couto e Silva a Ivete Vargas e à direita

2 – Parte da Bancada do PDT votou pela privatização da Eletrobras.

Já havia votado antes pela reforma trabalhista, isto é, retirada de direitos dos trabalhadores, e pela reforma da Previdência Social, ruptura do sistema público de proteção social, questões fundadoras do trabalhismo no Brasil, juntamente com a criação das estatais estratégicas, reorganização do Estado nacional e a ideia do desenvolvimentismo, a capacidade do povo brasileiro superar o atraso. Além da prioridade na educação acrescentada por Brizola.

A Eletrobras reveste-se de caráter especial neste quadro.

Foi concebida no segundo governo Getúlio Vargas, por sua assessoria econômica, dirigida pelas grandes figuras de Rômulo de Almeida e Jesus Soares Pereira.

Na sequência, foi enviada ao Congresso Nacional com a ideia de que, para o Brasil se desenvolver e sobreviver como nação, tem de dominar suas fontes de energia — Petrobras e Eletrobras.

O governo Juscelino Kubstcheck não conseguiu aprovar a Eletrobras devido a fortes pressões no Congresso, especialmente de fora, embora tenha se jogado na construção de importantes hidrelétricas, Furnas à frente.

João Goulart conseguiu vencer no Congresso e implantou a Eletrobras.

Os governos militares compreenderam o papel estratégico da Eletrobras e a expandiram.

Não haverá maior negação do trabalhismo do que votar a favor das reformas trabalhista e da Previdência Social e pela privatização da Eletrobras.

Parte da bancada do PDT o fez. A direção do PDT deu cobertura.

Justificou que era para não perder parte do Fundo Partidário. Infelizmente, muita gente na política gosta muito de dinheiro, acima dos princípios e valores.

3 – Assistimos, ainda, o PDT contratar marqueteiro a peso de ouro com o Fundo Partidário e utilizar ampla rede social para Ciro Gomes atacar o Partido dos Trabalhadores e a maior liderança popular do País, Lula.

Os ataques de Ciro são desfechados para tentar atingir e minar as forças populares e as políticas de esquerda.

No momento, servem ao conservadorismo que vive grandes dificuldades: como enfrentar Lula. O PDT e Ciro atuam como linha auxiliar.

O Fundo Partidário não foi feito para isso.

Ele deve, isto sim, ser aplicado na formação de quadros dos partidos, no estudo e desenvolvimento de suas doutrinas e no conhecimento do Brasil e da vida do nosso povo para formulação e aperfeiçoamento das suas propostas.

A cobertura aos deputados que votam em desrespeito ao trabalhismo e os ataques às políticas de esquerda mostram o triste caminho que o PDT está seguindo.

Aliás, outro dia, ACM Neto, presidente do DEM, sucessor da ARENA, disse que o entrosamento com o PDT é muito grande, já estão juntos em muitos lugares e estarão juntos no ano que vem.

Triste de se ver.

Mas o trabalhismo resistirá. Ninguém se surpreenda, mas já está visível que o povo brasileiro se prepara para dar o troco e consagrar, no ano que vem, a linha política que defende os seus direitos e interesses.

Foi assim, em 1950, com Getúlio.

Depois com as eleições de Juscelino e Jango e mais adiante com Lula e Dilma.

Já está claro no horizonte que o povo brasileiro sabe quem mais defendeu seus direitos e quem mais abraçou o trabalhismo: Lula e o Partido dos Trabalhadores.

Nenhum deputado do PT votou pelas reformas trabalhista e da Previdência Social, nem pela privatização da Eletrobras.

 PS do Viomundo: Após enviar nos enviar o seu artigo, Vivaldo Barbosa lembrou-se de uma foto antológica de 12 de maio de 1980, dia em que Brizola perdeu a sigla PTB para Ivete Vargas e a direita.

“É Brizola com a mão na testa, chorando”, observou. “Depois, o Drummond [Carlos Drummond de Andrade] escreveu sobre essa cena inesquecível em sua coluna no Jornal do Brasil.”

Abaixo, o texto de Drummond, publicado em 15 de maio de 1980 no JB.

Eu vi…

Carlos Drummond de Andrade

Vi um homem chorar porque lhe negaram o direito de usar três letras do alfabeto para fins políticos. Vi uma mulher beber champanha porque lhe deram esse direito negado ao outro.

Vi um homem rasgar o papel em que estavam escritas as três letras, que ele tanto amava. Como já vi amantes rasgarem retratos de suas amadas, na impossibilidade de rasgarem as próprias amadas.

Vi homicídios que não se praticaram mas que foram autênticos homicídios: o gesto no ar, sem conseqüência, testemunhava a intenção. Vi o poder dos dedos. Mesmo sem puxar o gatilho, mesmo sem gatilho a puxar, eles consumaram a morte em pensamento.

Vi a paixão em todas as suas cores. Envolta em diferentes vestes, adornada de complementos distintos, era o mesmo núcleo desesperado, a carne viva;

E vi danças festejando a derrota do adversário, e cantos e fogos. Vi o sentido ambíguo de toda festa. Há sempre uma antifesta ao lado, que não se faz sentir, e dói para dentro.

A política, vi as impurezas da política recobrindo sua pureza teórica. Ou o contrário… Se ela é jogo, como pode ser pura…

Se ela visa o bem geral, por que se nutre de combinações e até de fraudes.

Vi os discursos…

*Vivaldo Barbosa foi deputado federal Constituinte. É advogado e professor aposentado da UNIRIO.