Um argumento golpista de insufladores das Forças Armadas

Um dos argumentos golpistas dos que tentam insuflar as Forças Armadas a uma intervenção ditatorial é que muitas das questões motivadoras do Golpe Militar de 64 continuam presentes na sociedade brasileira. Vejamos quais foram as questões que motivaram aquele Golpe.

Um argumento golpista de insufladores das Forças Armadas

Um argumento golpista de insufladores das Forças Armadas

 

Por Salin Siddartha

Um dos argumentos golpistas dos que tentam insuflar as Forças Armadas a uma intervenção ditatorial é que muitas das questões motivadoras do Golpe Militar de 64 continuam presentes na sociedade brasileira. Vejamos quais foram as questões que motivaram aquele Golpe.

Capitaneada pelo imperialismo norte-americano, de um lado, e a burocracia soviética, de outro lado, a Guerra Fria que polarizou o mundo, pouco depois da Segunda Guerra, entre o hemisfério capitalista e os Estados operários, pressionava toda a América Latina a combater o socialismo e os movimentos progressistas como profilaxia receitada, a fim de evitar governos antiestadunidenses no próprio quintal dos EUA. Fator que não conseguiu impedir a Revolução Cubana.

A miséria do continente e o fracasso do capitalismo em sequer mitigar o descontentamento das massas com a situação pela qual passavam conduziam o desenvolvimento cada vez mais bem sucedido da forma como as esquerdas se articulavam politicamente, inclusive no seio dos militares. A reação imperialista, antevendo a impossibilidade de sucesso eleitoral dos partidos da direita em nosso continente, foi a de promover golpes militares direitistas.

Políticos reacionários, como Carlos Lacerda, Magalhães Pinto e Ademar de Barros, faziam o enfrentamento aos movimentos nacionalistas, a partir do Congresso Nacional, com a cobertura protetora dos grandes meios de comunicação na produção de mentiras e farsas

No Brasil, à deposição do primeiro Governo Vargas, seguiu-se a aplicação sucessiva de uma estratégia de tomada de poder pelos setores entreguistas. A ascendência obtida por oficiais superiores e por oficiais-generais dos EUA durante a participação da Força Expedicionária Brasileira-FEB em território italiano desdobrou-se na influência progressiva sobre as lideranças militares em nosso país. Como reflexo, a criação da Escola Superior de Guerra-ESG impôs uma doutrina de segurança nacional defensora do chamado mundo ocidental e dos Estados Unidos da América como modelo a ser seguido pelas lideranças militares e burguesas. Baseava-se na repressão aos movimentos operários e aos movimentos de defesa do proletariado.

O aliciamento do empresariado conservador do campo e da cidade envolvia largas somas de dólares e “favores” para comprar industriais, comerciantes, banqueiros, latifundiários, assim como a líderes sindicais e estudantis pelegos. Competentes políticos reacionários, como Carlos Lacerda, Magalhães Pinto e Ademar de Barros, faziam o enfrentamento aos movimentos nacionalistas, a partir do Congresso Nacional, com a cobertura protetora dos grandes meios de comunicação na produção de mentiras e farsas, como a do atentado ao major Rubens Vaz e ao próprio Lacerda, na rua Toneleiros, em Copacabana. E o principal partido da direita, a UDN, catalisava a casta política em prol de um golpe que quase se concretizou em 1954, não fosse a coragem suicida do Presidente Getúlio Vargas, que encheu de comoção solidária o povo de nossa pátria, adiando, assim, por mais dez anos, o Golpe Militar.

A criação de organismos como o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais-IPES e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática-IBAD, com largo financiamento do capital monopolista internacional, tornou possível estruturar um aparelho de agitação e propaganda liderado por majores, tenentes-coronéis e coronéis que viriam a ser, mais à frente, a vanguarda do Golpe de 1964 e de todos os governos militares que nele se arvoraram a dirigir o Brasil. Em que pese esses fatos, sem a Guerra Fria não haveria a marcante urdidura ideológica do Golpe. Além disso, os pretextos vitoriosos utilizados para a implantação do regime de arbítrio foram três: a quebra da disciplina, o descumprimento da hierarquia militar por parte dos praças e a inflação que ultrapassava a faixa de 60% ao ano (os militares conseguiram fazê-la chegar em 215,27%, quando já no fim da Ditadura).

Daí deduz-se a pergunta: Guerra Fria, inflação altíssima, quebra da disciplina e da hierarquia militar ainda são questões motivadoras para um golpe militar presentes na sociedade brasileira, seja no período em que o PT dirigiu a Nação, seja mesmo hoje em dia?

A resposta é não.

Com o fim da Guerra Fria, acabou-se o forte pretexto ideológico para um golpe militar. A inflação herdada dos Governos Militares está controlada desde a época do Presidente Itamar Franco, e não houve, nem há, quebra da disciplina e da hierarquia militar no País.